sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O futuro dos livros

“As tecnologias modificam o mundo, mas a natureza humana permanece a mesma. Se não fosse assim, best sellers como A Ilíada, os Salmos de Davi e Beowulf seriam ininteligíveis para nós hoje em dia. As tecnologias sucessivas da linguagem, da escrita e dos tipos móveis colocaram ferramentas cada vez mais poderosas nas mãos dos contadores de histórias, ferramentas cujos usos eram inimagináveis quando essas tecnologias foram criadas. Ficará a cargo dos nossos filhos e de seus filhos o aprendizado do significado das tecnologias que hoje despontam no horizonte. A produção de livros como eu a conheci já está obsoleta, mas a definidora arte humana de contar histórias sobreviverá à evolução das culturas e de suas instituições como sempre o fez.. As novas tecnologias modificam o mundo mas não apagam o passado nem alteram o genoma.

“Os livros como objetos físicos não perecerão para serem substituídos por sinais eletrônicos lidos em luminosas telas que cabem na palma da mão. Tampouco desaparecerão as livrarias. Mas doravante passarão a coexistir com um vasto catálogo multilíngue de textos digitalizados, compilados de uma profusão de fontes, talvez ‘etiquetados’ para uma fácil referência e distribuídos eletronicamente. De seus computadores domésticos os leitores poderão transferir deste catálogo os materiais por eles selecionados para máquinas capazes de imprimir e encadernar a pedido exemplares unitários, máquinas estas que estarão disponíveis em inúmeros locais remotos e quem sabe, por fim, em suas próprias casas. Este local poderá ser um quiosque na esquina da minha rua em Manhattan, enquanto os leitores nas margens do Nilo ou no sopé do Himalaia terão acesso similar à sabedoria do mundo em seus próprios quiosques vizinhos. A tecnologia apropriada, em embrião, já está disponível, e eu a vi. O futuro que essa tecnologia implica não pode ser evitado. Eu o aguardo com assombro e ansiedade.” (p.11-12)

(Fonte: EPSTEIN, Jason. O negócio do livro: passado, presente e futuro do mercado editorial. Rio de Janeiro: Record, 2002. 170p.)

O QUE FAZEM OS BIBLIOTECÁRIOS?

"Trata-se de verdade incontestável o fato de a biblioteca mostrar-se essencial ao crescimento, desenvolvimento e, sobretudo, à transformação
das pessoas.

Sem exigir horários nem uniformes, ela propicia a cada indivíduo a liberdade de conhecer o que quiser, quando quiser e como puder, em
diferentes suportes (impressos, audiovisuais, cartográficos, ciberespaciais, entre outros), sem nada cobrar em troca; assegura a
oportunidade de alcançar, ver, tocar, familiarizar-se com os mais diversos registros do conhecimento; oferece alternativa para escolha dos registros do conhecimento de interesse a cada um.

Se alguns levianos presumem-na morta e enterrada, a biblioteca renasce das cinzas qual fênix egípcia, simbolizando o deus sol e recriando-se.

Outra verdade estabelecida é o fato de haver diferentes tipos de bibliotecas. Cada país tem uma - e geralmente apenas uma - Biblioteca
Nacional, destinada a preservar, disseminar e prover acesso à cultura e à produção bibliográfica (em sentido amplo) de uma nação, de um povo. Mais do que um patrimônio nacional, esse tipo de biblioteca faz-se patrimônio universal, na medida em que a cultura de um é parte da cultura do todo. Ao mesmo tempo em que olha para fora, para o mundo, uma Biblioteca Nacional precisa olhar para dentro e não somente preservar, mas difundir este patrimônio a seus concidadãos.

Os demais tipos de bibliotecas, ou centros de documentação, ou centros de informação, entre outras denominações, destinam-se a públicos específicos, mesmo que se refiram às incontáveis e diferenciadas parcelas de habitantes de uma determinada comunidade, município ou estado.

Seja qual for o seu tipo, portanto, cabe à biblioteca salvaguardar a história e os documentos relativos à comunidade ou à parcela de
habitantes. Para tanto, há múltiplas funções a serem desenvolvidas, funções estas que requerem um profissional habilitado: o bibliotecário.

Cabe ao bibliotecário coletar obras, em quaisquer suportes, de interesse do público a ser atendido, para incorporação ao acervo. Ele necessita
conhecer as características de edição, a seriedade das editoras e dos autores, sua competência no assunto, seu zelo pela língua portuguesa, seja nos originais ou nas traduções, suas diferentes visões de mundo, intérpretes, diretores, enfim, saber distinguir entre a boa qualidade de
uma edição e a pura especulação comercial.

Cabe ao bibliotecário organizar o acervo, físico ou ciberespacial. Após selecionadas e coletadas, as obras necessitam de organização, visando a seu acesso pelo público, sob diversos enfoques de busca e recuperação. O bibliotecário conhece as normas e procedimentos para o intercâmbio nacional e internacional de informações bibliográficas e para adequação ao público.

Cabe ao bibliotecário disseminar as obras, por meios vários, inclusive ações culturais.

Cabe ao bibliotecário manter-se atualizado quanto às novas tecnologias voltadas à área biblioteconômica e a seus usuários.

Cabe ao bibliotecário manter-se atualizado quanto à cultura, à sociedade de modo geral e à comunidade em particular, de modo a promover a
cidadania, a ética e a cultura da paz.

Cabe ao bibliotecário comunicar-se com o público, tornando o espaço biblioteconômico, tanto físico como ciberespacial, um lugar agradável e de lazer.

O hábito da leitura e do uso das instituições bibliotecárias desenvolve-se desde a mais tenra infância, ainda na pré-escola; estende-se ao longo da vida e permanece durante a terceira idade, caso se crie e se mantenha de forma adequada.

O bibliotecário, e somente ele, recebe formação consentânea e especializada para o cumprimento de todas essas funções, sendo portanto
indispensável ao adequado funcionamento da biblioteca ou do centro de documentação e informação.

O bibliotecário é partícipe ativo da cidadania e da transformação de cada indivíduo."

Subscrevem este documento:

Profª Drª Eliane Serrão Alves Mey - UFSCar (aposentada) e pesquisadora FAPERJ

Prof. Dr. Marcos Luiz Miranda - unirio*, Diretor da Escola de Biblioteconomia

Profª Drª Elisa Campos Machado - unirio

Profª Maria Tereza Reis Mendes - unirio

* A Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO - compreende o mais antigo Curso de Biblioteconomia do país, que celebra 100 anos em 2011.